O que é o selênio e suas formas no organismo
O selênio-(Se), é um mineral traço — ou seja, é necessário em pequenas quantidades — mas exerce um papel crucial em várias funções fisiológicas. Ele atua sobretudo como cofator de enzimas, ligando-se às enzimas convertendo-as para sua forma ativa para que então elas consigam realizar suas funções. Sem o cofator a enzima não fica ativa. Assim o selênio participa desde produção de hormônios até o funcionamento do sistema imunológico.
Ele está presente sob formas orgânicas e inorgânicas. As formas orgânicas mais comuns são a selenometionina (encontrada em alimentos vegetais, especialmente grãos) e a selenocisteína (presente principalmente em produtos de origem animal). As formas inorgânicas, como o selenato e o selenito, podem ser encontradas em suplementos e fertilizantes. A biodisponibilidade dessas formas varia, sendo geralmente melhor aproveitadas as formas orgânicas.
Ao ser absorvido, o Se se incorpora em mais de 25 selenoproteínas, como a glutationa peroxidase (GPx) e a tioredoxina redutase, fundamentais no papel antioxidante, regulação do metabolismo da tireoide, síntese de DNA e reprodução.
Principais funções do selênio no organismo
1. Potente ação antioxidante
A função mais notória do selênio está na neutralização de radicais livres. Ele atua por meio da glutationa peroxidase (GPx), que impede o dano oxidativo em lipídios, proteínas e DNA. Essa atividade protege o organismo contra inflamações, envelhecimento precoce e doenças degenerativas como Alzheimer, Parkinson e diversos tipos de câncer.
Estudo: National Institutes of Health (NIH), Office of Dietary Supplements
2. Regulação hormonal (tireoide)
O selênio é vital para a conversão do hormônio T4 (inativo) em T3 (ativo), sendo indispensável para o funcionamento da glândula tireoide. A ausência desse nutriente compromete a produção hormonal, o que pode levar à lentidão metabólica, fadiga, queda de cabelo e problemas cognitivos.
3. Fortalecimento do sistema imunológico
O selênio modula a resposta imune por meio da regulação de citocinas e da atividade de células T e células natural killer (NK). Sua deficiência está associada à maior suscetibilidade a infecções virais como HIV, gripe, H1N1 e Covid-19.
Estudo: Beck et al., 2004 – Viral infections and selenium deficiency
4. Fertilidade e reprodução
O Se é essencial para a formação e motilidade dos espermatozoides, sendo decisivo na fertilidade masculina. Em mulheres, atua protegendo o tecido ovariano e favorecendo a saúde hormonal geral.
5. Prevenção de doenças cardiovasculares
Por sua ação antioxidante e anti-inflamatória, o selênio ajuda a reduzir o risco de aterosclerose e regular o colesterol LDL oxidado, contribuindo com a saúde arterial e do coração.
Ação do selênio em diferentes partes do corpo
Cérebro
O selênio está presente em altas concentrações no cérebro. Ele protege os neurônios contra o estresse oxidativo, favorece a sinalização sináptica e está associado à função cognitiva e ao equilíbrio emocional. Baixos níveis de Se têm sido associados a maior risco de demência e depressão.
Estudo: Nutritional Neuroscience, 2014
Fígado
No fígado, o selênio atua como protetor hepático, combatendo a peroxidação lipídica e promovendo a regeneração celular. É um aliado na prevenção de doenças como esteatose hepática e hepatites virais.
Sistema digestivo
A presença de Se influencia o equilíbrio da microbiota intestinal e atua na integridade da mucosa intestinal. Sua deficiência está relacionada ao aumento da inflamação intestinal e à maior suscetibilidade a doenças inflamatórias intestinais.
Pele
O selênio combate os radicais livres induzidos pela radiação UV e por toxinas ambientais, contribuindo para uma pele mais jovem, firme e com menos inflamações.
Sistema reprodutor
No sistema reprodutor masculino, o Se favorece a integridade do esperma e protege contra o estresse oxidativo que danifica os gametas. Em mulheres, participa da regulação hormonal e da função ovariana.
Sistema cardiovascular
O selênio previne danos nas paredes arteriais e ajuda a regular a inflamação sistêmica, prevenindo a formação de placas ateroscleróticas e reduzindo o risco de infartos e AVCs.
Sintomas da deficiência de selênio
Uma deficiência leve pode passar despercebida no início, mas os sinais se tornam mais evidentes à medida que o desequilíbrio se agrava. Os principais sintomas incluem:
- Fadiga persistente
- Queda de cabelo
- Unhas quebradiças
- Infecções frequentes
- Dificuldade de concentração e lapsos de memória
- Irritabilidade e oscilações de humor
- Problemas de fertilidade
- Hipotireoidismo
Além disso, a deficiência de selênio pode agravar quadros pré-existentes de doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto.
Consequências da deficiência prolongada de selênio
A deficiência crônica de selênio está ligada ao desenvolvimento de doenças graves, incluindo:
Doença de Keshan
Uma cardiomiopatia endêmica registrada em regiões da China com solos extremamente pobres em selênio. Caracteriza-se por degeneração do músculo cardíaco e alto risco de insuficiência cardíaca.
Doença de Kashin-Beck
Trata-se de uma osteoartrite degenerativa ligada à deficiência de selênio, que afeta crianças e adultos, com deformidades ósseas progressivas.
Hipotireoidismo
A falta de selênio prejudica a conversão do hormônio T4 em T3, favorecendo distúrbios na tireoide e acúmulo de radicais livres na glândula.
Imunodepressão
O sistema imune torna-se menos eficiente na resposta a vírus e bactérias, elevando o risco de infecções respiratórias e crônicas.
Problemas cognitivos e neurodegenerativos
Deficiência prolongada pode contribuir para o surgimento precoce de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson, devido à incapacidade de neutralizar o estresse oxidativo no cérebro.
Fontes naturais de selênio
A concentração de selênio nos alimentos depende fortemente do teor desse mineral nos solos onde são cultivados. Regiões com solos pobres tendem a produzir alimentos com baixos teores de selênio. No entanto, algumas fontes se destacam por sua alta biodisponibilidade:
- Castanha-do-pará (ou do Brasil) – É a maior fonte natural de selênio conhecida, com apenas uma unidade fornecendo acima da ingestão diária recomendada.
- Peixes e frutos do mar – Sardinha, atum, salmão, camarão
- Carnes e vísceras – Fígado bovino, frango, porco
- Ovos – Principalmente a gema
- Cogumelos
- Sementes e grãos integrais – Dependendo do solo
- Produtos lácteos – Leite e derivados
Referência: USDA FoodData Central
A recomendação diária de ingestão de selênio para adultos é de cerca de 55 mcg por dia, podendo chegar a 70 mcg em homens. O consumo excessivo também deve ser evitado, pois pode causar toxicidade.
Considerações finais
Apesar de necessário em quantidades muito pequenas, o selênio tem um impacto imenso sobre a saúde. Sua presença está associada ao bom funcionamento do cérebro, tireoide, imunidade, fertilidade e proteção contra doenças crônicas. Ao mesmo tempo, sua ausência é um risco silencioso que pode minar a saúde progressivamente.
Cultivar uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais, é a principal forma de garantir níveis adequados de selênio. E, sempre que necessário, a suplementação deve ser orientada por profissionais, levando em consideração o histórico de saúde, dieta habitual e fatores regionais, como a qualidade do solo e da água.